Cansei de vê-las
tão unidas e amassadas sempre na mesma gaveta. Não ocupavam tanto
espaço, mas eu não aguentava mais olhar pras letras ainda fechadas.
Foram muitas as oportunidades que eu tive de abri-las. E nunca me faltou
coragem para tal ato. Nem faltava tempo. Havia tanto tempo de sobra,
onde eu as contemplava. Já eram amarelas, já tinham certa idade e
pareciam me encarar. Criaram vida no meu quarto, na gaveta, em minha
imaginação. E um dia, ou melhor, em uma noite, eu as abri. Era sim a
letra dele disso eu não duvidava, o jeito de se expressar também. Nada
meigo nada rude, era só ele e suas palavras. Li com sua voz ecoando em
minha mente, li presenciado cada movimento que ele pode ter feito.
Frases explodiam, frases maiores ainda que seus olhos castanhos. E eu as
lia diminutivas, eu lia: aquelas moças não eram nossas filhas, só poderiam ser. Uma delas tinha seu sorriso. Ele
sabia tão bem ser magnífico. Não as li aleatoriamente pela data de
envio e isso fez com que você morresse antes de ver as flores que
combinariam com meu vestido de bolinhas azuis. E você em umas delas
dizia:não daríamos certo porque eramos errados, mas as flores
combinariam tão bem com você, com seu vestido já tão velho quanto eu
estou agora.A última carta aberta me trouxe um pequeno e feliz susto, você me dizia descaradamente ter quebrado nosso acordo: eu
fui mais fraco, te li ontem, você ainda é linda e agora tem cabelos
brancos. Deve andar devagarinho. Seríamos ótimos companheiros em uma
caminhada pelo parque. Tem um esplendido jacarandá no jardim vizinho à
minha casa. Sabe amor, talvez teríamos sido ótimos companheiros de
caminhada.Reli, agora de mim mesma a frase: teríamos sido ótimos companheiros de caminhada.
Nathaly Oliveira.
Nathaly Oliveira.
2 comentários:
Ótima escrita!
Ana
http://umlivroenadamais.blogspot.com.br/
Que bom que gostou (:
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